terça-feira, 25 de junho de 2013

segurança de quê?

a gente passa a vida tentando se sentir seguro e na prática de reflexões, meditação e auto-análise, descobri uns ângulos que me fazem questionar o modo certo de falar sobre segurança. não é onde. é como.
então nossas escolhas são baseadas nisso: fazemos coisas que consideramos seguras, ou experimentamos seguramente, ou buscamos sentido nas coisas porque isso traz segurança, evitamos situações que parecem incertas.

aí você pensa naquele seu amor de juventude, onde quase nada importava, e a aventura e o pai ser contra e todo o contexto improvável que até hoje faz você sorrir quando lembra.. não tinha nada segurança nisso.
- não?
essa é a história mais segura do mundo! é a que aspiramos desde cedo, é a que vemos nos filmes, a que temos como receita pra um final feliz, a da nossa melhor amiga em Paris...

queremos ser felizes, mas evitamos o risco. evitamos o desconhecido. evitamos a dor. evitamos tudo o que nos tira conforto, porque segurança é poder, é saber, é controlar. e, vamos lá, a gente precisa sentir que controla alguma coisa, porque no fundo o que nós queremos controlar é a gente, e isso é o que menos conseguimos.

mas se lembrarmos dos sonhos (para alguns são realizações): mochilão na Europa, cruzar os US de carro,  passar um Revellion em Sydney, um Safari na Africa do Sul, sua mãe falando: mas não é seguro! e seu coração falando: quem se importa? é o que eu quero! - entenderemos o que o modo certo realmente não é pensar no que é seguro, mas como eu me sinto com relação às coisas. não é evitando as situações, mas nos preparando para elas.

amigos da disciplina e da auto-análise raramente precisam recorrer à mania de segurança porque o que importa mesmo está seguro: o eu.
e isso depende de cada um, à medida que se torna possível se apropriar de si mesmo.


domingo, 23 de junho de 2013

as linhas, os sentimentos e o abraço. - e daí?

Não é o café, nem as viagens caras que você já pode fazer, ou o fato que agora você não se incomoda que alguém não vá muito com a sua cara que define que você amadureceu.

São as linhas que você sem perceber traça para (conseguir) viver a vida.

Como reagir quando você se abre, expondo um ponto frágil seu, e o outro - sem perceber - reage de uma maneira que te faz sentir menor? Quando o que o outro fala, a reação é de indiferença? Como fazer pra não se sentir.. mal?

E nesse momento, quando esse sentimento (ou essa sensação, chame como quiser) aparece, você sem perceber traça uma linha. No meu caso é a linha do: tudo bem, se você não me entende, não te levo mais a sério.
Sabendo que esta também não é a melhor reação.. fiquei pensando. Não seria mais interessante pensar: e daí? Essa pergunta ecoou na minha cabeça.

E daí que o outro riu?
E daí que o outro não entendeu?
E daí que o outro não te respondeu mais?
E daí que o outro te respondeu com outro assunto?

Mudou o que eu sinto sobre o assunto? Mudou o que o assunto representa para mim?
Não.
O que mudou é que eu me arrisquei e não gostei do resultado do que eu vi. Foi a frustração que mudou. Saber que o outro não entendeu do jeito que eu entendo. Doeu! E essa dor mudou toda a minha perspectiva. Mudou as linhas!

Eu entendi, hoje, numa situação dessas, que as linhas dançam de acordo com o que eu sinto. Eu posso expandir e diminuí-las na proporção da maturidade dos meus sentimentos.
E nessas horas, me pergunto, o quão honestos são nossos abraços.. porque.. será que realmente eu consigo abraçar o outro pelo que ele é ou eu o abraço pelo que ele representa pra mim?

e o eco da minha consciência retorna a seguinte questão: tem diferença? quem se importa? as pessoas só querem se sentir abraçadas...

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Carta pra ninguém

Vou escrever porque é isso que amigos fazem, certo? Eles compartilham. Então espero que leiam com o coração o que eu vou lhes falar.

(...)

exclusivamente hoje, eu vim falar de mim. Eu nunca falo de mim. Bom, às vezes, quando eu preciso muito, eu me abro. E essa talvez seja a mágoa número 1. Eu raramente acho que as pessoas querem saber o que realmente estamos passando.
Por que eu acho isso? Eu aprendi isso. As pessoas não querem mesmo saber o que você sente quando o sentimento é pesado, é triste ou é muito reflexivo. As pessoas querem o fácil, o sorriso largo, a alegria, o bom. As gente sempre quer o bom, não é?, eu também sou assim, então nem dá pra ficar brava com os outros, afinal, eles querem o mesmo que eu... E por pensar assim, eu engulo. Eu guardo o sentimento. Qual o problema se ninguém quer realmente saber como eu estou?
Mas tem problema. É claro que tem.

Aí vem a mágoa 2. As pessoas não querem que tenha problema.
Tem problema!! Mas como ninguém tem culpa.. eu me calo. Vou falar o quê? Pra quem? E tento digerir sozinha o que estou sentindo. O problema é meu. E acabo levando isso tão a sério que foi ficando difícil me abrir. Aos 9 anos, me abrir com quem? Com a minha irmã caçula, que passa pelo mesmo que eu? Com a meia-irmã ciumenta, que não me quer na casa que estou? Com a minha madrinha, que já tem milhões de coisas na cabeça?!
E as outras pessoas? As que querem saber, não querem que tenha problema. Se você está triste, você escuta: não fica triste. Se você quer chorar, você escuta: não chora. Se você está calada, você escuta: não adianta se emburrar com a vida, não é culpa de ninguém.
Sobram poucas opções, não é mesmo?
Hoje eu vejo que algumas pessoas toleram esse tipo de emoção, mas com 10 anos, não é assim. Então você finge que não tem problema.

Aí vem a mágoa 3 e 4, as derivadas. Orgulho e Agressividade.
Fingir que não tem problema cria uma casca. Um muro. Uma máscara. A casca é dura, o muro é alto e a máscara é linda! Está tudo ótimo.
Só que dentro, quem você é, o que você sente.. nada disso. O conteúdo é frágil, o terreno é barroso e o rosto é triste, amargo.
Mas é tão exaustivo construir tudo isso, complicado..que essas defesas se tornam parte de você. É difícil acreditar que dá pra viver sem tudo isso que você sempre usou pra se "defender". Você acaba não querendo ver e mostrar que tudo aquilo era mais pra fora do que pra dentro (orgulho). Principalmente se você fala alguma coisa que é muito importante pra você e o outro menospreza. E se a gente se sente ameaçado.. vem a agressividade, pra colocar todo mundo pra correr.

Eu sei de casos que dentro da casca tem um vulcão em erupção. Tem quem surte. Tem quem corra do desafio. Eu tenho enfrentado.. do jeito que dá. Às vezes mais, às vezes menos. Firme como gelatina.
Eu me motivo do jeito que dá. Eu tenho aprendido muito com esse processo, porque tudo o que eu sei sobre mim mesma eu busquei sozinha. Não tive ninguém pra ajudar. Eu acredito que uma das coisas que eu vim pra aprender é: crescer e me virar, a responder por mim mesma, sem me escaldar nos outros. Ser independente emocionalmente.
Mas, dentro das minhas dificuldades e devido a minha história de vida, me fechei.. E para continuar a caminhada tenho que aprender a confiar. A me livrar das mágoas. Abrir meu coração. Transparecer o que eu realmente sou.

Me emocionou porque é o que eu tenho colocado como objetivo desde que consegui diminuir, controlar, minha agressividade. Mas é muito difícil fazer isso sem me fechar.
Meus amigos falam que eu era mais decidida, mais decisiva, taxativa. Alguns sentem falta desse jeito meio mandão. Dizem que eu fiquei meio mole, em cima do muro. É que hoje eu penso mais antes de falar. De ter certeza. Quem tem certeza? Certeza do quê? Reflito mais. Mostro mais quem sou de verdade porque não preciso mais fazer no impulso, agir como se só eu estivesse certa, sem olhar ao meu redor, sem conferir os resultados. Eu consigo, hoje, lidar com errado, com o errar, com o perder. Parte do personalismo perdeu força porque hoje eu sei que aquele muro não é real, eu não preciso dele.
Aprendi a duvidar. E esse duvidar não é a dúvida ruim, mas o meio termo entre o questionamento sadio e a vontade de continuar. E engraçado, aprendi a me guiar mais pelos meus sentimentos do que pelos pensamentos, porque os pensamentos traem, os sentimentos não.
(...)

E eu queria que ficasse muito claro que o choro não é de tristeza, mas de desabafo. Fiquei feliz que neste exame não me viram parada numa estrada. E acredito, sinceramente, que se a palavra mágoa apareceu é porque eu já consigo lidar com o fato de que eu tenho - sim - mágoas e questões a serem trabalhadas. Consigo admitir que parte do tempo, fico triste. E eu nunca fui capaz de admitir isso. Só este fato, para mim, é grande ganho. (...) Se eu continuar conseguindo lidar de modo são com os sentimentos que eu tenho achado dentro de mim, me sinto feliz. Não plenamente satisfeita, mas bem.

Ainda tenho grandes trabalhos a realizar dentro de mim! Mas tenho tomado nota mental (e material também, escrevendo) sobre esse processo de auto-descobrimento. Se Eles acham que falta mais, que ainda tenho que estar mais forte pra continuar, eu acredito e concordo 100% com Eles. Eles saberão antes de mim quando o que eu tenho a oferecer será o suficiente. Eles sabem que posso não estar pronta e que talvez haja espaço para mais esforço, mas eu tenho me colocado e oferecido o melhor de mim. Por hora, meu trabalho na Mocidade mantém minha mente trabalhando e a EAE tem cuidado do meu coração. Quer coisa melhor que isso? Mente e coração trabalhando com Jesus!

E por eu ser alguma coisa inteligente e eloqüente, dinâmica, eu costumo conseguir as coisas com alguma facilidade. O não motiva bastante em situações como essa.
Então, meu amigo, você ser justo e criterioso comigo só faz com que eu admire ainda mais você e me fez sentir tratada com igualdade. Porque tem algo, e essa deve ser a mágoa 5, que faz com que eu muitas vezes não me abra: as pessoas tem pena. E eu sei que eu estou passando pelo que eu tenho condições de passar, a pena e o trato diferenciado tem efeito inverso ao esperado.
Tenho certeza que nossos laços se estreitam porque é baseado no carinho, mas com integridade.